Ed Ferreira
Josias de Souza
Com a reforma do seu ministério, Dilma pode ganhar uma nova razão para permanecer na Presidência e um novo proveito: virou atração turística. Seu segundo governo é, hoje, um anacronismo com nove meses de idade. Mas Dilma é um fenômeno que provoca um misto de pena e curiosidade. De tão anacrônica, acabou se transformando numa personagem folclórica.
Depois que Dilma terceirizou o expediente do Planalto a prepostos de Lula e delegou pastas importantes como Saúde e Ciência e Tecnologia a figurantes do baixo clero do PMDB, sua relevância turística ultrapassou a ideológica. As pessoas agora podem posar do seu lado como posam ao lado das cataratas do Iguaçu, onde o perigo é apenas presumido, ou de uma Vênus de Milo, cuja deficiência estimula debates infindáveis sobre a forma como perdeu os braços.
Sugada por uma onda de impopularidade, a pior que um presidente já enfrentou desde a redemocratização do país, Dilma será pouco útil na Presidência. Mas o apelo da ex-gerentona e seus passeios de bicicleta nos arredores do Palácio da Alvoada é o de uma excentricidade algo cômica. Livre dos afazeres da Presidência, Dilma poderá dedicar mais tempo ao desenvolvimento de sua vocação insuspeitada para patrimônio turístico.
A aceitação coletiva do novo papel de Dilma depende da disposição da plateia para assumir uma dose de hipocrisia de quem sabe que um governo varejado pela Lava Jato e desafiado pelos maus resultados econômicos pode desmoronar a qualquer momento. Mas o suplício talvez renda dividendos para Dilma entre os amantes do turismo de aventura.