Em depoimento prestado à Polícia Federal em novembro, o doleiro Alberto Youssef afirmou que o ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), na época em que ainda era filiado ao PP, lhe pediu um empréstimo para quitar a dívida de um helicóptero que ele havia comprado em 2012. Youssef relatou, no entanto, que em vez de emprestar o dinheiro, ele decidiu comprar a aeronave e emprestá-la ao então parlamentar baiano até o fim da campanha eleitoral do ano passado.
Até a última atualização desta reportagem, o G1 ainda não havia localizado Luiz Argôlo para comentar o caso. Em outras oportunidades, o ex-deputado negou envolvimento com Youssef.
Segundo o doleiro, o ex-deputado da Bahia fazia parte do “rol de parlamentares” do PP que recebiam mensalmente propina referente a contratos da diretoria de Abastecimento da Petrobras. Argôlo se desfiliou do PP em 2013 e, posteriormente, se filiou ao SD.
As declarações de Youssef fazem parte de uma série de depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) em outubro do ano passado e anexados nesta quinta-feira (12) no processo da Lava Jato.
“Argôlo adquiriu a aeronave no ano de 2012 para pagar a prazo, todavia no vencimento das prestações o mesmo não possuía o dinheiro necessário; […] Argôlo pediu que o declarante [Youssef] emprestasse o dinheiro para que ele efetuasse o pagamento pelo helicóptero, tendo o declarante se negado a fazer, propondo que quitasse as prestações e ficasse com a aeronave, emprestando o bem a ele para que utilizasse até o fim da campanha eleitoral”, diz trecho do depoimento de Youssef à PF.
No relato, Youssef informou ter pago, à vista, cerca de R$ 700 mil pela aeronave, por meio da empresa GFD, de sua propriedade. O doleiro ressaltou que Argôlo usou a aeronave sem custos.
Processo de cassação
Em outubro de 2014, o Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer favorável à cassação do mandato de Argôlo devido a suposto envolvimento dele com Youssef. O caso, no entanto, não chegou a ser votado no plenário da Câmara por conta de recurso da defesa do parlamentar apresentado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que não chegou a analisar pedido. Ao conselho, Argôlo negou ser sócio de Youssef e disse ter conhecido o doleiro como empresário e investidor.
A PF concluiu, em maio do ano passado, relatório sobre o envolvimento de Argôlo com Youssef. Foram analisadas 1.411 mensagens de celular entre os dois, de setembro de 2013 a março de 2014. Segundo a PF, a linha usada pertencia à Câmara dos Deputados.
Ao depor ao Conselho de Ética, em setembro do ano passado, Argôlo negou ser sócio de Youssef e afirmou que a única relação entre os dois foi a venda de um terreno do irmão do deputado para o doleiro. O parlamentar disse ainda que Youssef foi apresentado a ele como empresário e investidor no Nordeste.
“Não utilizei o meu mandato para auxiliar em nada os possíveis negócios que o Alberto Yousseff fizesse. […] Nunca fui sócio dele, em nenhuma empresa. O Alberto, eu conheci como um empresário e investidor. Quando ele falava que tinha interesse em investir no Nordeste, qualquer empresário que queira investir no meu estado, eu vou apoiar”, afirmou na ocasião ao Conselho de Ética.
G1