Josias de Souza
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O senador Romero Jucá, cacique do PMDB, espantou-se com o teor da entrevista que Dilma Rousseff concedeu à Folha. Ficou especialmente impressionado com o trecho em que Dilma repetiu três vezes, em timbre peremptório, a frase “eu não vou cair”. O senador enxergou no comentário de Dilma um quê de Collor, o presidente que foi apeado da poltrona pela via do impeachment.
“Pense num juízo! A presidente Dilma deu uma de Collor, chamou a crise para si”, comentou Jucá, segundo as repórteres Maria Lima e Fernanda Krakovics.
Collor também dizia que permaneceria no Planalto até o último dia do mandato. Daí a lembrança de Jucá. Em 1992, Collor pronunciou um arroubo que passaria à história como um tiro contra o próprio pé. Em solenidade oficial, o então presidente convocou seus apoiadores a saírem às ruas num domingo.
“Peçam às suas famílias que no próximo domingo saiam de casa com peças de roupa com uma das cores de nossa bandeira”, exortou Collor na época. “Exponham nas janelas toalhas, panos e o que tiver nas cores da nossa bandeira. […] Nós estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria: na minha gente, no meu povo, nos pés descalços, nos descamisados. Naqueles por quem fui eleito e para quem estarei governando até o último dia do meu mandato.”
No dia escolhido por Collor, as ruas foram tomadas por uma rapaziada trajando preto. E Collor se deu conta de que já não havia tantos brasileiros dispostos a confiar nele. Afastado do cargo temporariamente pela Câmara, renunciou ao mandato poucas horas antes do início da sessão do Senado convocada para apreciar o pedido de impeachment. Os senadores deram de ombros para a renúncia. E levaram até o fim o processo de cassação. Hoje, senador pelo PTB de Alagoas, Collor é um feliz apoiador do governo Dilma.