Colunista do 247, Tereza Cruvinel avalia que a presidente Dilma Rousseff marcaria pontos com sua arredia base social se declarasse logo a intenção de vetar o projeto da terceirização; a jornalista diz que se sancionar o PL, mesmo numa versão atenuada pelos destaques e pela votação no Senado, estará chancelando algo que desagradou profundamente os que vivem do trabalho; “Se vetar, e o Congresso derrotá-la derrubando o veto, estará livre de qualquer compromisso com uma proposta socialmente retrógrada”, afirma; nesta quarta (15), movimentos sociais e sindicatos de todo o país fizeram paralisações contra o projeto da terceirização; pressionada, a Câmara adiou a votação dos destaques da lei para a próxima semana
Tereza Cruvinel – Se a votação dos destaques do projeto de terceirização de mão de obra tivesse continuado ontem, seus defensores teriam sofrido uma severa derrota e o projeto sairia bem mutilado. Entre a votação do texto básico na semana passada e a noite desta terça-feira os deputados sentiram, nas bases e nas redes sociais, o tamanho da reação à proposta que permite a terceirização ampla, geral e irrestrita. Muitos recuaram. E vimos PSDB e PT votando juntos para aprovar a emenda tucana que proíbe terceirização nas empresas estatais.
Este projeto pode ser um divisor de águas. Nesta primeira fase, ele produziu alguns efeitos políticos dignos de nota, especialmente para o PT, que votou contra o texto básico juntamente com o PC do B e o PSOL. “Há tempos a bancada do PT não votava totalmente unida como neste caso. A terceirização também fortaleceu nossos laços com os sindicatos e movimentos sociais”, diz o deputado petista Paulo Pimenta.
Um vídeo produzido pela assessoria da bancada mostrando os efeitos da terceirização sobre a qualidade das relações trabalhistas teve mais de cinco milhões de acessos no site do partido. Dilma também marcaria pontos com sua arredia base social se declarasse logo a intenção de vetar o projeto. Se o sancionar, mesmo numa versão atenuada pelos destaques e pela votação no Senado, estará chancelando algo que desagradou profundamente os que vivem do trabalho. E ninguém se lembrará, no futuro, que a iniciativa foi do Congresso e não do governo.
Mas na entrevista aos blogueiros ela foi evasiva. Lembrou apenas que os sindicatos estão divididos. CUT é contra, Força Sindical é a favor. Aliás, foi o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que vendo a vaca ir para o brejo propôs o adiamento da votação dos demais destaques. Dilma poderia ter sido mais enfática, dizendo taxativamente que é contra, assim como já fez em relação á PEC que reduz a maioridade penal.
Se vetar, e o Congresso derrotá-la derrubando o veto, estará livre de qualquer compromisso com uma proposta socialmente retrógrada.
Abaixo matéria da Agência Brasil sobre as manifestações que ocorreram em 22 Estados contra o PL da terceirização:
Sindicatos fizeram hoje (15) protestos em pelo menos 22 estados contra o projeto de lei que regulamenta a terceirização no Brasil, aprovado na Câmara no dia 8. Durante a tarde e início da noite, houve manifestações em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe, Bahia e no Distrito Federal. Alguns desses estados, ocorreram atos tanto à tarde quanto pela manhã
Os protestos, que integram o Dia Nacional de Paralisação contra o Projeto de Lei (PL) 4.330/2004, ocorreram ainda em Alagoas, Amapá, Goiás, Piauí, Paraíba, Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pará, Acre, Maranhão, Rondônia, Ceará.
Há registro de ao menos um confronto entre policiais militares e manifestantes, que aconteceu em Vitória. As manifestações são organizadas por sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais sindicais.
Houve paralisações no transporte público em pelos menos cinco capitais, segundo a CUT: Florianópolis, Porto Alegre, Salvador, Recife e Brasília. O Dia Nacional de Paralisação contra a Lei da Terceirização também inclui passeatas, manifestações e paralisações em diversos estados.
Nesta tarde, manifestantes de centrais sindicais se concentraram na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília. Em São Paulo, fizeram um ato político em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde queimaram bonecos representando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fizeram uma caminhada na Avenida Paulista.
No Rio de Janeiro, os manifestantes iniciaram o ato na Cinelândia, em frente à Câmara Municipal, com o apoio de um carro de som. Ocorreram protestos durante a tarde ainda em Belo Horizonte, Salvador, Recife, Natal, Florianopolis e Aracaju. As cidades de Maceió, Fortaleza, Macapá, Goiânia, Teresina, João Pessoa, São Luís, Porto Velho, Rio Branco, Rio de Janeiro e Belém, entre outras, tiveram manifestações pela manhã.
Policiais militares e manifestantes entraram em confronto em Vitória (ES). Durante o tumulto, a PM utilizou bombas de efeito moral para tentar dispersar os participantes do protesto. A assessoria da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social informou à Agência Brasil que o direito à manifestação está sendo respeitado, mas que o uso da força policial foi necessário para cumprir uma decisão judicial de ontem (14), que determinou que não houvesse fechamento de vias de acesso à capital.