Colunistas da imprensa conservadora já demonstram certa impaciência com a presença de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seu ex-aliado, na presidência da Câmara dos Deputados; acossado pelas denúncias de que mantém pelo menos R$ 9,6 milhões na Suíça, o que ele atribui à venda de carne moída para o Zaire (acredite se quiser!), Cunha perdeu força para tocar um eventual processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff; Merval Pereira já afirma que ele está em “flagrante delito”; Dora Kramer informou que Cunha atrapalhou uma “conspirata” articulada entre o vice Michel Temer, do PMDB, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG); Eliane Cantanhêde, por sua vez, já tenta emplacar um sucessor capaz de tocar o impeachment; enquanto não for retirado o bode da sala, não há golpe
247 – Os colunistas da imprensa conservadora estão nervosos. O motivo é a paralisia das discussões sobre eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, desde que a situação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, se tornou insustentável.
Cunha, como se sabe, é acusado de manter diversas contas secretas na Suíça, onde já foram bloqueados cerca de R$ 9,6 milhões. Ontem, soube-se o teor de sua defesa: Cunha dirá, acredite se quiser, que fez fortuna exportando carne moída para o Zaire.
É tão patético, que nem nos mais paraguaios devaneios da direita brasileira, alguém acreditaria num processo de impeachment contra uma presidente contra quem não pesa nenhuma acusação ética tocado por um chefe do Poder Legislativo em tal situação.
Por isso mesmo, os colunistas da imprensa conservadora abandonaram seu velho aliado de guerra. “O homem que dá as cartas na Câmara dos Deputados em Brasília, seu presidente Eduardo Cunha, visto mais uma vez ontem a distribuir o tempo de seus colegas como se nada estivesse acontecendo fora da rotina, na fria letra da lei está em estado de flagrante delito”, disse Merval Pereira, no Globo.
No Estado de S. Paulo, Dora Kramer revelou que a presença de Cunha inviabilizou uma “conspirata” urdida pelo vice-presidente Michel Temer, do PMDB, e pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Há cerca de 40 dias, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, tiveram uma conversa sobre um eventual governo de transição. O encontro aconteceu na casa do senador Romero Jucá, em condomínio nos arredores de Brasília. O assunto não prosperou, inclusive porque nesse meio tempo entrou em cena o fator Eduardo Cunha”, afirmou (leia mais aqui).
Nesta sexta-feira, também no Estado de S. Paulo, Eliane Cantanhêde explicitou a necessidade de um novo presidente da Câmara para tocar eventual presidente de impeachment – com Cunha, não dá mais. Por isso mesmo, ela lançou o nome do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), um dos principais conspiradores do Planalto (confira aqui).
Para completar o quadro, o jornal O Globo, da família Marinho, publicou editorial afirmando que Cunha atravanca o País e pedindo que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal façam alguma coisa. “Tudo fica na dependência do plano de Cunha de se agarrar no posto, apesar de todas as provas contra ele. Salvo alguma interferência do Ministério Público ou do Supremo”, diz a família Marinho.
Como se vê, Cunha se transformou no bode na sala do golpe. Enquanto ele estiver lá, não haverá impeachment.