Pedro Ladeira
Josias de Souza
Os 62% de brasileiros que disseram ao Datafolha considerar Dilma 2ª ruim ou péssima podem estar sendo injustos com a presidente. Talvez ela visse a redução no pagamento de benefícios sociais como um dos principais problemas do país desde seus tempos de “Mãe do PAC”. A providência fazia parte da sua agenda secreta. Daí a escolha do tucano Joaquim Levy para chefiar a Fazenda. Por isso as regras que reduzem o pagamento da pensão por morte, do auxílio-doença, do abono salarial e do seguro-desemprego entraram nas primeiras medidas provisórias que o segundo governo Dilma mandou para o Congresso. São medidas típicas de início de governo, quando presidentes recém-eleitos aproveitam a euforia para alardear suas prioridades.
Depois de um discurso de posse em que anunciou o novo lema do governo —‘Pátria Educadora’ —,quando se esperava que viessem à luz boas notícias na área educacional, coerentes com o pronunciamento reinaugural— Dilma nomeou Cid Gomes para o Ministério da Educação. Como uma coisa não combinava com a outra, deduz-se que o ex-governador cearense virou ministro apenas para disfarçar o verdadeiro intento de Dilma, que era o de desfrutar do prazer de demitir Cid Gomes e nomear para o lugar dele um acadêmico respeitado: Renato Janine Ribeiro.
Revendo-se discursos e entrevistas antigas de Dilma só de raro em raro encontram-se referências elogiosas ao PMDB —ainda assim, é preciso procurar um pouco. Portanto, são grandes as probabilidades de que o desejo de dividir o poder com o PMDB fosse um dos principais itens da agenda secreta de Dilma. Ela só entregou a coordenação política para o Pepe Vargas, petista inexpressivo, para não vitaminar a tese segundo a qual tornara-se uma escrava das vontades de Lula. No fundo, não via a hora de confiar a um Eliseu Padilha ou, melhor ainda, ao próprio vice Michel Temer a articulação política do seu governo. Mesmo que jamais tenha mencionado o plano nem para o espelho.
Aos pouquinhos, Dilma vai remodelando a cara ao seu governo. Decorridos três meses do início do segundo mandato, verifica-se que a nova gestão se parece com muita coisa, menos com aquela Dilma autossuficiente do primeiro reinado. O próximo passo da presidente talvez seja mostrar para Renan Calheiros e Eduardo Cunha que a pose de oposicionista que ambos fazem é desnecessária. Primeiro porque não faz nexo exigir a redução do número de ministérios em público e brigar pela pasta do Turismo à sombra. Segundo porque Renan e Cunha logo perceberão que, na agenda secreta de Dilma, a presidência da República é da cota do PMDB.