Josias de Souza
O ‘asfaltaço’ de 15 de março deixou Brasília mais surrealista do que nunca. As ruas se encheram porque há muita gente de saco cheio com Dilma Rousseff e com o governo dela. Quem é o responsável por tanta revolta? À frente do governo democrático e popular do PT, Dilma acha que a coisa não é com ela. Instada por jornalistas a fazer uma autocrítica, ela preferiu se abster. Armada de ironia, Dilma disse que a imprensa tem “certa volúpia” em arrancar dela uma confissão. “Seria um absoluto fingimento da minha parte”, desconversou.
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Protestos de 15 de março pelo país140 fotos 113 / 140
Manifestantes lotam a avenida Paulista, em São Paulo, em protesto que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Diversas cidades do país recebem neste domingo (15) manifestações contra o governo Leia mais Jorge Araújo/Folhapress
Dilma se dispõe a dialogar com qualquer um. Afirma que fará isso com “humildade e firmeza”. Mas se a presidente avalia que seu governo é ótimo, de que serve sua humildade? A própria Dilma tentou explicar:
“A abertura para o diálogo é o seguinte: nós estamos dispostos a dialogar com quem quer que seja, numa atitude de humildade, ou seja, querendo escutar o que a pessoa diz. Se ela vier pra mim e disser: ‘vocês estão errados aqui, aqui, aqui e aqui‘ eu vou escutar com humildade. Agora, me digam onde!”
Que nenhum aventureiro venha apontar erros na gestão econômica. De antemão, Dilma informa que, nessa área, não há mea-culpa a fazer. “Ninguém pode negar que nós fizemos de tudo para a economia reagir. O que eu não posso concordar é em aceitar ser responsabilizada por algo que seria pior se nós tivéssemos deixado.”
Que ninguém pense em esfregar a corrupção na cara da presidente. Nessa matéria, Dilma está vestida de verde e amarelo, ao lado dos manifestantes. Até prometeu, pela 199ª vez, enviar nos próximos dias aquele pacote de projetos anti-corrupção mencionado desde a campanha presidencial do ano passado.
Dilma celebra a maturidade da democracia brasileira e jura que está ouvindo as ruas. Um cínico poderia dizer que as expiações históricas exigem um tempo de maturação.
Como Dilma não admite nenhum erro, não se pode exigir dela um remorso antes do fato. Um remorso imediato também não seria conveniente. Restam às ruas duas alternativas: 1) contentar-se com uma contrição futura, quando não adiantar mais nada; ou 2) expressar novamente o seu saco cheio, na esperança de que Dilma perceba que um remorso mais rápido pode doer menos.